quarta-feira, 3 de junho de 2009

Memórias do inverno

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Ainda que sejam fenômenos bem estabelecidos, e previsíveis, as estações do ano costumam confundir parte das pessoas, especialmente as que vivem na área urbana, mais distantes do contato com a Natureza.

A mídia sempre se refere a dados astronômicos para estabelecer, com precisão, o início de cada uma das estações, como o caso do inverno que se aproxima, com início às 5h43 do próximo dia 21.

Por que existem estações distintas ao longo do ano e mais acentuadas à medida que se aproxima dos pólos?

As estações resultam da inclinação (de 23º,27’) do eixo de rotação da Terra em relação à eclíptica, o plano de órbita da Terra.

Essa inclinação do eixo produz as estações e elas moldaram o comportamento das mais diferentes formas de vida na Terra.

Ainda que possa parecer sem conexão, as estações do ano também devem ter influenciado a ocupação da Terra pela humanidade.

No passado remoto, rebanhos de diferentes animais migrando em busca de pastagens mais fartas, por exemplo, podem ter atraído grupos de caçadores que, ao longo do tempo, ampliaram as áreas ocupadas por populações humanas.

Dizer que o inverno começa às 5h43 do próximo dia 21 de junho, no entanto, é parte de uma convenção.

Nessa data o Sol atingirá o máximo afastamento aparente do equador (devido à inclinação do eixo de rotação). Mas, já em seguida, inicia o seu retorno aparente em direção ao Sul.

Na verdade, o 21 de junho marca, digamos, o meio do inverno. Tanto que, na Antártida, existe uma festa tradicional que começou com os primeiros exploradores, principalmente ingleses, justamente batizada de Middle Winter, ou Meio do Inverno.

Nessa data, dependendo de se tratar de um ano bissexto ou não, de fato o Sol atinge o maior afastamento aparente do equador, mas, como já referido, no instante seguinte, inicia o retorno ao Sul.

Ao que tudo indica, ainda é frequente a identificação das estações do ano com a maior ou menor aproximação entre a Terra e o Sol.

O periélio (máxima aproximação do Sol), este ano, ocorreu em 4 de janeiro e o afélio (maior afastamento) será em 4 de julho.

Periélio e afélio decorrem da órbita elíptica da Terra em torno do Sol (um anel ligeiramente achatado), o que exigiu um trabalho árduo do astrônomo alemão Johanes Kepler (1572-1630).

Kepler se deu conta de que a órbita de Marte era elíptica e com isso rompeu com a ortodoxia anterior, envolvendo circunferência perfeitas, idéia assimilada do aristotelismo.

Mas para fazer essa mudança Kepler dependeu de um outro astrônomo, o dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) que havia feito medidas com base em instrumentos relativamente simples, numa era anterior à do telescópio.

Talvez seja interessante relembrar que o solstício de inverno para o hemisfério sul marca o solstício de verão no hemisfério norte.

Já os equinócios, que assinalam a passagem aparente do Sol entre os hemisférios, marcam a primavera e outono e também são invertidos em relação aos hemisfério Sul e Norte da Terra.

Para se precaver do que acreditavam ser um “apagamento” do Sol no céu, com o solstício de inverno, antigas populações humanas faziam enormes fogueiras para assegurar a sobrevivência de nossa estrela estrela-mãe.

Essas são as raízes distantes das festas juninas, comemoradas durante o inverno no Brasil.

Como se vê, a Terra está indissoluvelmente ligada ao céu.

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